Crónicas dos Arcos
Voka Puro… ou com gelo.
Primeiro as premissas:
1. Os Estados Unidos ainda são a super-potência dominante.
2. Existe alguma emergência das potências regionais.
3. A unipolaridade americana é contrabalançada pela necessidade que a Administração das terras do Tio Sam tem em conciliar posições conjuntas e em estabelecer alianças.
4. A União Europeia e a Rússia não se devem afastar.
5. A Guerra-Fria terminou no princípio da década de 90, ou não!
E esta última questão pode ser particularmente sensível à agenda europeia da presidência que Portugal se prepara para assumir.
Até que ponto as relações NATO ou PESC e a Rússia poderão exercer alguma influência no esfriar do reatar do conflito político e geoestratégico entre a Rússia e os Estados Unidos, a propósito do dossier anti-mísseis? Os laços entre americanos e russos estão, claramente, maus e instáveis.
Porque se pode parecer utópico falarmos no reatar do antigo cenário da guerra-fria, não deixa de ser notório (como ficou demonstrado na recente cimeira do G8) que existe, hoje, um confronto geopolítico emergente entre a Rússia (Putin) e os Estados Unidos (Bush), reavivado pelo anúncio da instalação, por parte dos americanos, de bases anti-mísseis na Europa e mais concretamente em países europeus outrora pertencentes ao antigo domínio da URSS (Polónia e República Checa, como exemplos).
Porque razões?! (pelo menos as mais perceptíveis e mais óbvias).
Esta reacção do Presidente Putin a este novo contexto na defesa europeia, tem como suporte o "complexo" da perda da influência no pós guerra-fria e no desmembramento da antiga URSS, pelo facto de os instrumentos serem instalados em países de Leste, nomeadamente Polónia e República Checa, outrora aliados da Federação Russa.
Além disso, a crescente influência política, económica e militar da zona euro-atlântica (derivada dos processos de solicitação e de adesão dos países de Leste) que se estendeu até às fronteiras Russas, através da NATO e da UE, cria alguma sensação de instabilidade, receio e “estrangulamento” geográfico, bem como o facto de Moscovo manter a determinação em garantir a sua capacidade de dissuasão nuclear em relação a Washington.
Do ponto de vista geopolítico, este é um ponto psicológico crucial para a elite política e militar russa, principalmente numa altura em que se perspectiva uma eventual mudança de poder.
Para Moscovo, o plano americano de defesa anti-míssil, tem como objectivo consolidar a influência geopolítica americana na Europa. Deste modo, o discurso retórico e as ameaças de Putin visam claramente dividir governações e a opinião pública europeias, numa altura crucial para a consolidação (ou não) da fragilizada identidade da União, com o retomar do processo do Tratado Europeu e as consequências dai resultantes para a afirmação do papel e influência da instável e vaga Política Europeia de Segurança e Defesa na sua relação com a NATO.
Por outro lado, em termos políticos, os dois estados vêm-se envolvidos em estratégias internas e externas que, embora semelhantes nos objectivos, têm impactos globais distintos e que condicionam eventuais acordos, consolidando e sustentando este novo “braço de ferro”: para a Rússia a questão da Chechénia, para Washington a invasão do Iraque. E se o desconforto político e social é visível nos dois estados, não deixa de ser relevante que neste campo, apesar da “impunidade” oferecida pelos americanos aos russos nos seus feitos dizimadores internos, os Estados Unidos, recebendo um “aparente” silêncio e apoio no caso Iraque, necessitam mais do apoio político russo para questões fulcrais como os “dossiers” Coreia do Norte e Irão.
Para além do aspecto político, convém relembrar o importante peso económico regional da Rússia, pouco preocupada com a inflação petrolífera da zona do Golfo, resultado de um monopolização das fontes energéticas na zona asiática e o impacto que tem nos países do leste e centro da Europa (a Rússia teima em não ratificar a Carta Energética Europeia, por mais insistência que haja da UE).Assim, é difícil determinar se este recente conflito culminará no retorno ao passado do confronto político e estratégico do período pós II Guerra Mundial (até porque as realidades políticas e geográficas são diferentes). Mas é certo que culminará numa nova guerra-fria, já que é ilusório pensarmos que a Rússia adormeceu militarmente, tecnologicamente, economicamente e estrategicamente. Se tal aconteceu, durante a década de 90, pelas alterações geopolíticas resultantes da queda do muro de Berlim e do desmembramento da URSS, não deixa de ser notória a influência política, militar e económica, as novas alianças geoestratégicas e as recentes movimentações militares que a Rússia tem desenvolvido na zona mais a Leste da Europa e na Ásia.
Voka Puro… ou com gelo.
Primeiro as premissas:
1. Os Estados Unidos ainda são a super-potência dominante.
2. Existe alguma emergência das potências regionais.
3. A unipolaridade americana é contrabalançada pela necessidade que a Administração das terras do Tio Sam tem em conciliar posições conjuntas e em estabelecer alianças.
4. A União Europeia e a Rússia não se devem afastar.
5. A Guerra-Fria terminou no princípio da década de 90, ou não!
E esta última questão pode ser particularmente sensível à agenda europeia da presidência que Portugal se prepara para assumir.
Até que ponto as relações NATO ou PESC e a Rússia poderão exercer alguma influência no esfriar do reatar do conflito político e geoestratégico entre a Rússia e os Estados Unidos, a propósito do dossier anti-mísseis? Os laços entre americanos e russos estão, claramente, maus e instáveis.
Porque se pode parecer utópico falarmos no reatar do antigo cenário da guerra-fria, não deixa de ser notório (como ficou demonstrado na recente cimeira do G8) que existe, hoje, um confronto geopolítico emergente entre a Rússia (Putin) e os Estados Unidos (Bush), reavivado pelo anúncio da instalação, por parte dos americanos, de bases anti-mísseis na Europa e mais concretamente em países europeus outrora pertencentes ao antigo domínio da URSS (Polónia e República Checa, como exemplos).
Porque razões?! (pelo menos as mais perceptíveis e mais óbvias).
Esta reacção do Presidente Putin a este novo contexto na defesa europeia, tem como suporte o "complexo" da perda da influência no pós guerra-fria e no desmembramento da antiga URSS, pelo facto de os instrumentos serem instalados em países de Leste, nomeadamente Polónia e República Checa, outrora aliados da Federação Russa.
Além disso, a crescente influência política, económica e militar da zona euro-atlântica (derivada dos processos de solicitação e de adesão dos países de Leste) que se estendeu até às fronteiras Russas, através da NATO e da UE, cria alguma sensação de instabilidade, receio e “estrangulamento” geográfico, bem como o facto de Moscovo manter a determinação em garantir a sua capacidade de dissuasão nuclear em relação a Washington.
Do ponto de vista geopolítico, este é um ponto psicológico crucial para a elite política e militar russa, principalmente numa altura em que se perspectiva uma eventual mudança de poder.
Para Moscovo, o plano americano de defesa anti-míssil, tem como objectivo consolidar a influência geopolítica americana na Europa. Deste modo, o discurso retórico e as ameaças de Putin visam claramente dividir governações e a opinião pública europeias, numa altura crucial para a consolidação (ou não) da fragilizada identidade da União, com o retomar do processo do Tratado Europeu e as consequências dai resultantes para a afirmação do papel e influência da instável e vaga Política Europeia de Segurança e Defesa na sua relação com a NATO.
Por outro lado, em termos políticos, os dois estados vêm-se envolvidos em estratégias internas e externas que, embora semelhantes nos objectivos, têm impactos globais distintos e que condicionam eventuais acordos, consolidando e sustentando este novo “braço de ferro”: para a Rússia a questão da Chechénia, para Washington a invasão do Iraque. E se o desconforto político e social é visível nos dois estados, não deixa de ser relevante que neste campo, apesar da “impunidade” oferecida pelos americanos aos russos nos seus feitos dizimadores internos, os Estados Unidos, recebendo um “aparente” silêncio e apoio no caso Iraque, necessitam mais do apoio político russo para questões fulcrais como os “dossiers” Coreia do Norte e Irão.
Para além do aspecto político, convém relembrar o importante peso económico regional da Rússia, pouco preocupada com a inflação petrolífera da zona do Golfo, resultado de um monopolização das fontes energéticas na zona asiática e o impacto que tem nos países do leste e centro da Europa (a Rússia teima em não ratificar a Carta Energética Europeia, por mais insistência que haja da UE).Assim, é difícil determinar se este recente conflito culminará no retorno ao passado do confronto político e estratégico do período pós II Guerra Mundial (até porque as realidades políticas e geográficas são diferentes). Mas é certo que culminará numa nova guerra-fria, já que é ilusório pensarmos que a Rússia adormeceu militarmente, tecnologicamente, economicamente e estrategicamente. Se tal aconteceu, durante a década de 90, pelas alterações geopolíticas resultantes da queda do muro de Berlim e do desmembramento da URSS, não deixa de ser notória a influência política, militar e económica, as novas alianças geoestratégicas e as recentes movimentações militares que a Rússia tem desenvolvido na zona mais a Leste da Europa e na Ásia.
2 comentários:
Amigo Miguel,
estas são as questões verdadeiramente importantes.
Digo verdadeiramente importantes porque são as grandes questões aquelas que muito acima da compreensão do tuga médio, lhe demonstra inequivocamente que na sua insignificância, as suas aspirações a uma vida digna, a um serviço de saúde público, a uma reforma condigna após 40 anos de trabalho, a um salário de que se não envergonhe quando lhe perguntam quanto ganha, ao direito a um trabalho, ao ensino, a não ser sistematicamente espoliado por quem chega ao poder, ao direito de poder crescer intelecto e economicamente, em suma, a não ser tratado como vassalo por eleitos prepotentes e arrogantes.
Ora.., que interessam estas coisas miúdas deste gado que por aqui pasta, comparativamente com a alta política mundial com que o governo do estado a que isto chegou se deve efectivamente preocupar?
Abraço
Meu caro amigo Abel Cunha
Ironia quanto baste, meu caro.
Não há necessidade de confundir realidades e importâncias.
É óbvio que a realidade que o país enfrenta neste momento é grave, preocupante para a maioria dos cidadãos e sem muitas perspectivas de grandes melhorias.
No entanto, os dias de hoje têm uma realidade bem mais complexa, meu amigo.
Não vivemos, nem podemos ou devemos viver, fechados num universo circunscrito à nossa freguesia, concelho ou país.
A realidade é bem mais abrangente.
Hoje, quer ao nível social, económico, cultural e político, as nossas vidas são condicionadas (para o bem ou para o mal - e digo-lhe já que não acho que existe qualquer predominância) por um universo global e globalizado.
O conceito tradicional de Estado/Nação cada vez está mais diluído e as fronteiras geográficas (sejam elas locais ou nacionais) não fazem qualquer sentido.
Por isso é que estas realidades/questões, que tão ironicamente rejeitou, são igualmente importantes. E na maioria, senão quase na totalidade, as pessoas não têm consciência delas nem imaginam a forma como condiciona as nossas vidas e essas outras tristes realidades que tão bem enumerou.
Hoje em dia é importante ter-mos a consciência e efectuar-mos o esforço de não sermos "infoexcluidos", como descreve o sociólogo espanhol Manuel Castells.
Se não fosse esta globalização e a existência da Rede, o que seria do seu grito de revolta e desagrado pelas descuido e negligência, principalmente ambientais, a que incompetentes e irresponsáveis têm destinado Canelas?
Um abraço meu caro amigo.
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