“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

15 março 2007

Lembrar 11 Março

Publicado no Diário de Aveiro na edição de hoje (15.03.07).

Post-its e Retratos
Acção preventiva. Lembrar 11.03.2004.

Ninguém está livre de, amanhã, sem qualquer tipo de aviso, de repente apenas ter a noção de ouvir “PUM”. Algo que explode, rebenta e atinge as nossas vidas. Num ápice tudo se esvanece.
O Mundo tornou-se mais frágil e inseguro. Tornou-se um palco de conflitualidade, de violência, de guerra e de morte.
E esta é que é a verdadeira questão.
Há três anos, no dia 11 de Março de 2004, Madrid mergulhava num pesadelo. Não que a realidade dos atentados fosse algo estranho para aquela cidade. Mas pela dimensão, pela expressão internacional e pelo contexto e objectividade, Espanha sentia-se ferida.
Mas só Espanha?!
Por razões históricas, é conhecida a nossa relação “amor-ódio” com o país vizinho.
Pelas mesmas razões, é óbvia a nossa proximidade geográfica e um conjunto de opções político-estratégicas comuns. Exemplo: a cimeira das Lajes e a intervenção no Iraque.
É portanto preocupante este aumento da escalada de violência no Mundo.
Por várias razões e motivos, sejam de ordem ideológica, cultural ou política, podemos escolher vários (à nossa medida e gosto) responsáveis por esta triste realidade.
No entanto, há sempre um nome como referência: Estados Unidos.
Para o bem e para o mal, são os escolhidos.
Os americanos não são, sejamos objectivos e racionais, um poço de virtudes. A começar pelo que escrevi na semana passada sobre os direitos humanos.
No entanto, é reconhecida a sua capacidade, como única superpotência actual, de intervenção em situações de reconhecida insuficiência e inoperante diplomacia, em situações de clara injustiça humana.
Isenta de interesses?! Claro que não. Mas isso também seria uma verdadeira utopia.
Mesmo no nosso dia-a-dia, nas nossas vidas particulares, as nossas acções e reacções centram-se num óbvio dar e receber. É esta a necessidade comunicacional e emotiva entre o ser humano. É esta uma realidade subjacente aos povos e ás suas acções. Não como premeditações objectivas, mas como consequências naturais.
Mas é um facto que o Mundo, após o 11 de Setembro, o conflito no Afeganistão e a invasão do Iraque, se tornou mais instável, conflituoso e perigoso, a fazer esquecer o confronto mais diário e mediático das últimas décadas: o conflito Israel/Palestina.
Nos últimos anos, têm-se discutido ao nível das instâncias e na política internacionais a objectividade, legitimidade e legalidade da chamada acção preventiva.
Isto significa a permissão e possibilidade de um determinado estado, ou alianças entre estados, intervirem belicamente sobre um terceiro, se objectiva e factualmente estiver em eminência acções de conflito ou de insegurança internacional.
Por si só, esta realidade mostraria uma escalada da violência no mundo.
Mas também não deixa de ser verdade que, embora com o recurso ao conflito armado, se possa minimizar os efeitos devassos e devastadores da vida humana.
A complexidade deste paradigma resulta na certeza ou não da objectividade da acção preventiva.
Mas enquanto esta nova visão das relações internacionais se discute, a realidade da violência e do conflito tem um novo rosto e uma nova concepção, para as quais as nações não estão conscientes ou verdadeiramente preparadas.
É objectiva e relativamente clara uma percepção de uma ameaça ou conflito confinado a uma fronteira, um estado ou uma nação.
Quando esta realidade ultrapassa um espaço geograficamente definido, quando não se conhecem os propósitos políticos da ameaça, é muito difícil, para não afirmar, quase que impossível o seu combate eficaz. E é esta a realidade do terrorismo.
Ultrapassou fronteiras. Este enraizado no carácter emotivo, ideológico ou religioso das pessoas.
Não tem rosto. Não tem “morada”. Mas vive… para que outros morram.
Por mera convicção. Por falta de respeito pela vida.

4 comentários:

Susana Barbosa disse...

É verdade Miguel, nunca é demais lembrar.
Um abraço

Nuno Q. Martins disse...

Caro Miguel;

Em relação ao post, cumpre-me apenas assinar por baixo.

Esta questão da "acção preventiva" faz-me lembrar as acções cautelares do nosso contencioso administrativo. Só que estas "acções preventivas" têm um carácter militar e, por isso mesmo, jamais podem ser admitidas à margem do direito internacional e num quadro em que exista uma séria ameaça à paz, cuja não intervenção possa provocar maiores danos.

Um abraço.

Al Berto disse...

Viva Miguel:

O terrorismo tem várias faces.
hà o do Bin Laden... e há o terrorismo de estado.
Quando um país, sem razão justificada, invade outro, usando e abusando da sua força, a isso chama-se terrorismo de estado.
Este tipo de terrorismo é tanto ou mais sanguinário que o outro... o do Bin Laden.


Como pode o mundo estar mais seguro com atitudes destas?

Uma boa semana.
Um abraço,

Al Berto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.