“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

14 dezembro 2006

A Vida faz-nos pensar... às vezes

Publicado na edição de hoje (14.12.06) do Diário de Aveiro

Post-its e Retratos
Parar. Olhar e Pensar!


Nesta altura do ano, a vida passa-nos sempre muito a correr.
Ligue-se ou não ao Natal, ninguém, por mais esforço que faça, fica indiferente e não é envolvido nas “malhas” comerciais.
Passamos os dias numa azáfama tal, acrescida ao costumeiro stress diário laboral ou estudantil, que não conseguimos parar para olhar e muito menos para pensar. Ou se o fazemos, é com um esforço de tal forma exigente que nos cansam as ideias.
Os 30 anos do poder local (desde 1976 - primeiras eleições autárquicas) pós processo da revolução de 1974, tenho dúvidas que tenham tido qualquer impacto nos munícipes, excluindo, obviamente, aqueles que, por razões profissionais ou por responsabilidade de gestão autárquica, estiveram envolvidos nas comemorações.
A Cidade continua a precisar que os aveirenses (todos) parem, pensem e a olhem.
A Associação “Os Amigos do Parque”, a Junta e a Câmara precisam de todos para revitalizar um espaço que é importante para Aveiro, bem como a sua relação com a Baixa de Sto. António.
A zona envolvente à Estação e à Urbanização da Forca, uma das principais entradas na cidade, está completamente despida e descaracterizada.
A zona da antiga Lota continua a fazer falta à qualidade de vida e bem-estar dos aveirenses.
Há zonas públicas que continuam descaracterizadas, como por exemplo a zona envolvente ao Centro de Congressos e a do Parque de Feiras.
Há a necessidade de repensar a mobilidade das pessoas e a sua acessibilidade à cidade. Reestruturar o trânsito e o estacionamento. Fomentar o transporte público e o alternativo. Melhorar a qualidade da cidade. Estreitar o relacionamento entre as freguesias do concelho e a cidade.
Fica por sentir a ligação dos sectores de referência e a comunidade: a Igreja, o Ensino, o Desporto, a Saúde, a Justiça.
Esvai-se a nossa identidade com a Ria, o Sal e o Mar.
E a vida passa a correr.
Ficam-nos as saudades da memória turva pelos paradigmas do necessário desenvolvimento. A zona das fábricas da cerâmica, a zona de lazer da “Paula Dias”, os barrancos de barro, as salinas, os parques e jardins.
Fica-nos a memória de uma cidade para passear, brincar, jogar, discutir.
Aveiro continua a perder. A perder serviços públicos, espaços, posicionamento regional, peso político, económico e social.
E a vida passa a correr.
Mesmo para além do que nos rodeia.
Para aqueles que nos são próximos, mesmo que a vida nos tenha separado por caminhos distintos, mesmo que o convívio diário se tenha dissipado, resta aquilo que de melhor há no ser humano: a memória e a sua capacidade de trazer ao consciente o que nos é querido.
E a incerteza da vida fundamenta-se na única certeza que temos, que é a de algum dia a morte nos separar.
Mas esta certeza, por mais consciente que seja, nunca nos prepara para a tristeza e para a dor. Principalmente para aqueles que nos são próximos, que fazem parte da nossa memória ou que a solidariedade e o respeito nos levam a perfilhar.
Da mesma forma que a cidade vai mudando mais do que aquilo que muitas vezes queremos, também a vida vai passando por nós sem lhe darmos atenção.
E se a vida corre depressa… como correu para o Paulo, para o Luís e para muitos outros para quem muito tempo ainda havia para viver.
Mesmo com o dia-a-dia de corrupio, a vida faz-nos parar, olhar e pensar.

2 comentários:

AC disse...

Ai, meu Estimado e Caro Franciscano, também S. António pregou aos peixes.
Um abraço e Bfs.

Migas (miguel araújo) disse...

E mesmo assim não desistiu.
Nem ele, nem eu
Um grande abraço