“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

26 dezembro 2006

Aveiro. Que identidade cultural?!

Publicado na edição n.º 4 (Dezembro de 2006) da Revista Cultural da Câmara Municipal de Aveiro - Pontes & Virgulas.
 
Aveiro. Que identidade cultural ?!

Um dos princípios da prevenção baseia-se na educação do indivíduo, por forma a ser mais fácil a assimilação de mecanismos de antecipação dos riscos.
Este processo educacional, tem muito mais impacto se for consumado nas crianças e adolescentes, para que, quando adultos, sejam conscientes dos princípios preventivos ensinados. Estão enquadradas neste conceito as campanhas de prevenção rodoviária, de educação ambiental - como a reciclagem, a percepção dos sectores de segurança - polícia, bombeiros, protecção civil, etc.
Por outro lado, a identidade e a herança culturais de uma determinada região, p. ex. o Concelho de Aveiro, é o resultado de uma evolução no tempo da sua cultura e património, bem como a maior ou menor determinação para a receptividade às influências externas, a alterações e ao aumento da diversidade.
Esta realidade tri-dimensional (cultura, património e identidade), evolucionista nos tempos, traz mudanças para as quais a memória colectiva não está, na sua maioria, preparada. Não por incapacidade de assimilar as novas vivências (antes pelo contrário), mas sim pelo facto de não memorizar as antigas. O moliceiro e os ovos-moles, vão, com o passar dos tempos, coexistindo com as BUGA e as novas tecnologias.
A memória histórico-patrimonial e a memória cultural vão perdendo os seus contornos existenciais: à grande maioria dos aveirenses (naturais ou assimilados) já nada dizem as referências de identidade cultural como o sal e a sua importância histórico-económica, a ria, o Museu Santa Joana e a sua história, o rico património religioso aveirense, a Arte Nova, o sector cerâmico, já para não referir a diminuta relevância (limitando-se ao comercial e turístico) dos moliceiros e dos ovos-moles.
Da história civilizacional da Cidade e do seu Concelho, já nem a memória escrita nos diversos documentos e publicações produzidos cativa, desafia e desperta os aveirenses. Perde-se no tempo e no bairrismo dos mais velhos (e pouco mais que estes) os nomes que fizeram a história de Aveiro: desde a Condessa Mumadona e Santa Joana até Vale de Guimarães, passando por Aires Barbosa, Alberto Souto, Artur Ravara, Homem Cristo, Jaime Magalhães Lima, Evangelista Lima Vidal, José Estêvão, Lourenço Peixinho, Mário Sacramento, entre muitos outros, referindo-me aos que, eventualmente, seriam os mais conhecidos.
A cultura e a civilização aveirense, excluindo uma minoria que tende cada vez a ser mais minoritária (os mais idosos, os técnicos e agentes culturais e os historiadores), já não se “vive”.
Nas escolas, promove-se a prevenção rodoviária e o ambiente. Não se ensina a cultura e a identidade aveirense. Esta não sai dos gabinetes e dos museus.
Dizia Jaime Magalhães Lima que “Aveiro tem essa virtude: a afeição pelas cousas e pelas pessoas transforma-se entre a sua gente em religião”.
Magalhães Lima perdeu-se no tempo. E Aveiro perdeu essa virtude e, hoje, essa religião conhece outros deuses. E, porque a cultura não gera riqueza económica, descuidando-se a sua capacidade de produzir riqueza social e desenvolvimento, Aveiro perde no tempo a sua identidade.

2 comentários:

Al Berto disse...

Viva Miguel:

Vou-me repetindo mas... como eu o compreendo.
Aveiro é o "coraçao" dos aveirenses.

Mas permita que lhe dê um pouco de optimismo na minha divagação.
Como dizia o sábio... só se pode gostar do que se conhece.
Ora a ignorância e o desconhecimento, como diz, são um entrave a que se possa admirar e amar a "riqueza" que é Aveiro.
Mas aqui temos que referir que, também como dá a entender, Aveiro no passado foi de facto amada mas por uma elite detentora do conhecimento enquanto o povo vivia na penúria e na ignorância.
Que é que eu quero dizer... pois bem, com o aumento da escolaridade e do nivel de vida das pessoas seguramente que a cultura também aumentará e, ainda que queiramos mais como é obvio, estou certo de que Aveiro será mais conhecida e portanto mais amada hoje e no futuro... assim a saibamos preservar.

Diria mesmo que, per capita, nunca Aveiro teve uma projecção tão mediática como hoje... bastaria o prestígio nacional e internacional da nossa Universidade.

Sejamos confiantes no futuro e saibamos nós, adultos, transmitir aos descendentes o que é o amor por Aveiro.

Um forte abraço e votos de um 2007 pleno de alegria,

Cristina disse...

Aveiro está em alta, então! muito bem...uma terra que não conheço:)

um beijinho estudante.