“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

17 abril 2006

Amêndoas e Leituras

Foi claramente uma páscoa de puro ócio.
Depois de finda a leitura dessa maravilha literária que recomendo vivamente: "A Sombra do Vento" de Vasco Ruiz Zafón, entre amêndoas e os coelhinhos de chocolate que a filhota paternalmente ia deixando de sobra, dei por terminada a leitura do enignático Vasco Pulido Valente - Retratos e Auto-Retratos.
Embora o título da obra seja precisamente o referido, a ordem de apresentação inverte-se logo na 1ª página.
Vasco Pulido Valente, auto retrata-se primeiro, com o desenho memorial dos seus dois avós e do enquadramento social da época mais marcante das suas vidas (entre a riviravolta republicana e o fim monárquico), para, páginas mais à frente, deambular pela sua anarquia existencial, onde as constantes ausências de regras de conduta vão coexistindo com o pessimismo e a oposição a tudo o que é institucional, laboral (a sua passagem pelo Min. da Cultura), político e até mundano (com as suas próprias casas).
Esta primeira parte é o Vasco Pulido Valente no seu lado obscuro, algumas vezes perto do "dantesco".
Nos Retratos, encontramos um interessante desfolhar histórico, com uma análise politico-social ao melhor nível de Pulido Valente. Algo se aprende sobre Salazar - Àlvaro Cunhal - Sá Carneiro (seu herói político) e Cavaco Silva (seu ódio político).
Curioso é que, apesar das referências específicas à sua participação no MASP-I, nota-se uma ausência (eventualmente premeditada) do retrato (específico) de Mário Soares.
Um boa leitura político-social de um largo período histórico

3 comentários:

Al Berto disse...

Viva Miguel:

Quando Vasco Pulido Valente escreve "reflexões" sobre as personalidades constantes do livro, fá-lo muitas vezes com um juízo crítico que peca, normalmente, pelo seu radical narcisismo.

Por vezes chega a dar a impressão de que escreve sobre essas personalidades instigado pelo facto de nele existir uma necessidade oculta de se lhes querer equiparar.

Migas (miguel araújo) disse...

Caro José Mostardinha
Não pense que acredito em tudo o que o Pulido Valente escreve... muitas vezes pelo contrário.
Mas tem uma virtude. Concorde-se ou não, a sua prosa faz-nos sempre pensar!
E isso é ter mérito!
Um abraço

Pé de Salsa disse...

Caro Migas

Mau é quando estamos de acordo com tudo o dizem, mesmo que seja de alguém com a personalidade e qualidade de Vasco Pulido Valente!

Numa coisa estamos de acordo: Concorde-se ou não, este Pulido faz-nos pensar e esse é sem dúvida um dos seus méritos.
Cumprimentos
Pé de Salsa