“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

06 dezembro 2005

The Day After.



Um dia após o primeiro debate presidencial (para além do que aqui já referi), e ao ‘sobrevoar’ todos os ‘escritos’ sobre o tema, continuo algo surpreso com algumas observações vindas à praça pública.
Primeiro uma referência ao mediatismo.
Infelizmente, torna-se por demais evidente, que para muitas pessoas, só o que ‘faz sangue’ ou se transforma em ‘peixeirada’ é atraente, apelativo e nos transporte do sonolento para o despertar de emoções. Como se fizesse qualquer sentido que o ‘confronto’ de ideias e conceitos fosse perceptível no meio do ‘tudo ao monte e fé em deus’. Nada melhor que regras previamente planeadas e aceites, para permitir que a comunicação política dos candidatos chega aos eleitores.
Porque é que um “debate” não pode ser transformado numa agradável conversa política, sem demagogias ou frases feitas, ou ainda o constante acusar e criticar permitindo disfarçar as deficiências?!
Para os apoiantes de Soares, Louçã e Jerónimo, para quem as dificuldades do vazio de ideias, conceitos e objectivos, das suas candidaturas se transformam num constante pesadelo, a saída ‘disfarçadamente’ menos negativa destes confrontos seria através do ‘achincalhar’, do ultraje, do acusar constante e da demagogia ‘metafórica’.
Felizmente as regras mudaram…
Esquerda vs Direita
É óbvio que aos candidatos, por mais independentes que sejam, não são alheios às suas ideologias vivenciais. Ninguém espera um Cavaco Silva marxista ou um Manuel Alegre democrata-cristão. É óbvio…
Para as candidaturas da esquerda (excepção feita a Manuel Alegre), o confronto das presidenciais resume-se a uma ‘batalha’ de papões, de saudosismos ‘abrilistas’ e ao binómio existencial direita-esquerda. Toda a campanha até agora realizada por essa ala política, se baseia na tentativa (cada vez mais frustrada) de derrotar a direita. A figura e o papel do PR não é o mais importante… o que interessa verdadeiramente é que o candidato, dito da direita, não seja eleito.
Isto significa que qualquer candidato da esquerda ganhando as eleições, não pode ser um verdadeiro PR de todos os portugueses… porque quem é português ao centro ou à direita não terá direito a representatividade presidencial.
Daí que os dois candidatos do debate de ontem tenham assumido a sua independência eleitoral, suprapartidária e livre, sem qualquer dúvida quanto ao garante da continuidade da vida democrática.
Empate (ou não)
Para muitas opiniões, o primeiro debate confrontou os dois candidatos capazes de dividir o eleitorado numa possível segunda volta.
Pelas posições assumidas por ambos, sem hostilizações, sem ataques fúteis e, em alguns momentos (muitos), em clara sintonia, poderia-se afirmar que existiu um empate técnico.
No entanto, existindo esse empate, Cavaco Silva foi quem saiu claramente beneficiado. Mais próximo da realidade social e económica do país, está mais perto das necessidades e anseios dos portugueses.
Manuel Alegre falhou aqui a primeira possibilidade de, com outro tipo de confronto político, se afirmar como o ‘candidato’ da esquerda e ganhar o seu eleitorado. Com Soares, não será mais fácil…
Cavaco Silva, muito bem preparado, acabou por conseguir ele próprio conduzir o debate com extrema acuidade, não cometendo erros que condicionassem, pelo menos, o eleitorado já fixado. Mesmo sem ‘destronar’ os indecisos.
Para quem tem a desvantagem do confronto ideológico com quatro candidaturas de esquerda, o primeiro ‘round’ (mesmo empatando) está ganho. Aliás, Cavaco Silva já se terá apercebido que bastará empatar todos os debates para ganhar as eleições, eventualmente já na primeira volta.

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