O ensino desceu à rua! Acrescento mais dizendo que o ensino está na rua… da amargura!
Responsáveis?! Quem?! Todos…
Vivida a sexta-feira atribulada, o regresso à acalmia neste fim-de-semana, permite-me olhar com mais serenidade a questão escolar.
Antes de mais recordo o curioso título de um post recente de JMO (noticias entre aveiro e lisboa), igualmente relacionado com o ensino: “Há coisas em que estou a ficar velho”.
Se recuar 24 anos, vou reviver os meus 15-16 anos de vivência estudantil e acabar por dar claro significado àquele título… sinto-me velho. As diferenças são abismais!
Os pais.
Cada vez mais distantes da escola, do associativismo que lhes permite um papel activo no processo de ensino e na ‘gestão’ da escola e, em alguns casos, do próprio acompanhamento escolar do seu educando.
Há, no entanto, uma preocupação meritória. Com o aumento das exigências profissionais que hoje se colocam aos pais, é legítimo que estes se preocupam minimamente com a ocupação horária dos seus filhos. E a escola tem a obrigação de dar respostas válidas a esta preocupação. Os filhos vão para a escola para aprender e para se desenvolverem, não para passarem o tempo com folgas ou feriados/furos, normalmente ocupados com ‘actividades’ que a família pouco aprova.
Os professores e a escola.
Que festa era (juntávamo-nos logo com duas violas e o ‘rabinho’ na relva) quando tínhamos um feriado/furo ou a greve dos transportes (comboios) impossibilitava um ou outro professor de dar as suas aulas! E porquê?! Porque era raro… muito raro. Daí que o tempo livre não fosse uma realidade preocupante, para os alunos, pais e ensino.
Em contrapartida, segundo os dados estatísticos divulgados pelo DN de 18.11.05, só durante um ano lectivo (2004/05) os professores faltaram a cerca de 9 milhões de aulas (contabilizados os ensinos pré-escolar, básico e secundário). Ou seja cerca de 10% do total dos tempos lectivos previstos. Acresce que ao docente são permitidos 67 regimes ao abrigos dos quais pode faltar ao exercício das suas funções.
Outro aspecto que marca a diferença entre ontem e hoje, é o relacionamento entre docentes e alunos, que permitia haver ‘vida’ para além da sala de aula: na rua, nas viagens de estudo, nas acções e actividades extra-curriculares na própria escola. O professor ensinava, cultivava e exercia uma valorizada função pedagógica. Sem que isso significasse distanciamento e indiferença em relação ao aluno. Por isso é que hoje, muitos da minha geração (38-42 anos), recordam facilmente a influência (umas vezes positiva, outras nem por isso) que a maioria dos ‘profs’ teve no nosso percurso estudantil.
Qualquer actividade profissional, da mais simples até à mais complexa, só se compadece com dois princípios: ou é exercida com paixão ou por obrigação. A do professor tem a ‘agravante’ de ser exercida em acção directa ‘sobre’ alguém (o aluno).
Para um encarregado de educação, o seu educando vai para a escola para aprender e para estudar. Lógico será que ocupe o seu tempo nessas tarefas. Se há a necessidade de um docente faltar à sua ‘obrigação’ laboral que é a de ensinar, será lógico que a escola crie condições para que o aluno tenha alternativas válidas e credíveis.
As aulas de substituição, na sua génese, são uma alternativa válida. O seu sucesso depende do que os professores e alunos quiserem ou souberem valorizar, bem como a capacidade organizativa da própria escola. Ou da forma como as quiserem ridicularizar.
A escola não se pode alhear das necessidades de aprendizagem dos alunos e das preocupações familiares dos mesmos. Principalmente nos dias de hoje, onde as solicitações e as pressões externas que são exercidas sobre os jovens, na maioria dos casos, são de extrema capacidade persuasiva, desviando-os, com extrema facilidade, das suas obrigações escolares.
Quem estudou entre 1976 e 1985, via no professor ‘mais velho’ uma referência cultural. Essa referência era muito mais esbatida nos professores mais novos ou nos estagiários (a quem ‘gostávamos’ de ‘dificultar’ a vida profissional). Por isso uma das argumentações da greve que se baseia na idade limite para leccionar, a mim parece-me descabida e injusta para com a experiência profissional e outras actividades.
Porque razão 50 anos são limitativos à actividade de docente e exige-se que um motorista ou alguém que abre valas para o saneamento básico (esforço e segurança) o possa obrigatoriamente fazer até aos 65 anos.
A minha avó materna era professora primária (desculpem do 1º ciclo básico - até isto me parece confuso). Com quase 90 anos e após uma trombose, criava discussões técnicas sobre latim com a minha irmã enquanto se formava na universidade de aveiro em português-francês. Esta é uma imagem que retenho nas minhas memórias com muita clareza.
Os alunos.
Aqui reside a minha suposta ‘velhice’ e as diferenças abismais entre o ontem e o hoje e que são muito maiores do que em relação à geração que me antecedeu. A questão da mentalidade.
A nossa vivência estudantil, do ponto de vista cultural, social ou político, era muito mais interventiva e activa. Quer nas estruturas da escola (delegações de turma e conselho pedagógico), quer nas estruturas associativas (núcleos e associações de estudantes).
Quem não recorda, com alguma nostalgia e orgulho, as RGA, os plenários e as campanhas eleitorais.
Hoje há (independentemente de existirem as estruturas) um vazio de ideias, de conceitos, de capacidade e vontade de intervenção. Por mais desculpas ou argumentos contrários. Não me convencem… (até porque na minha actividade como treinador de basquetebol lido diariamente com esta realidade).
Não me lembro de acções gratuitas de vandalismo, de faltas de respeito e agressões para com os professores e a escola, já para não falar da falta de solidariedade e respeito entre os próprios alunos. E no Liceu José Estêvão existiam cerca de 2500 alunos, desde o 7º ao 12º anos (ainda muito antes das c+s’s e das eb’s).
Aulas havia-as de segunda-feira até às 13:00 de Sábado, intercaladas com acções estudantis extra-curriculares, desde conselhos pedagógicos, actividades dos núcleos e das associações de estudantes e actividades culturais. Os tempos livres eram dedicados ao estudo, ao desporto e às actividades sociais e políticas. Os dias tinham mais que 24 horas. Hoje os jovens estudantes não sabem ocupar, nem gerir o seu tempo e as suas prioridades.
Nunca fui adepto da expressão dos ’meus mais velhos’: no meu tempo é que era. Mas a verdade é que para algumas coisas, estou a ficar mais velho.
A greve é um direito consignado na constituição da república.
A greve não pode ser justificada para servir de pretexto à alienação de responsabilidades.
A escola e o ensino depende de todos os seus agentes: governo, professores, alunos, pais e comunidade. Ninguém pode fugir às suas responsabilidades.
Esta greve soube a instrumentalização política.
Responsáveis?! Quem?! Todos…
Vivida a sexta-feira atribulada, o regresso à acalmia neste fim-de-semana, permite-me olhar com mais serenidade a questão escolar.
Antes de mais recordo o curioso título de um post recente de JMO (noticias entre aveiro e lisboa), igualmente relacionado com o ensino: “Há coisas em que estou a ficar velho”.
Se recuar 24 anos, vou reviver os meus 15-16 anos de vivência estudantil e acabar por dar claro significado àquele título… sinto-me velho. As diferenças são abismais!
Os pais.
Cada vez mais distantes da escola, do associativismo que lhes permite um papel activo no processo de ensino e na ‘gestão’ da escola e, em alguns casos, do próprio acompanhamento escolar do seu educando.
Há, no entanto, uma preocupação meritória. Com o aumento das exigências profissionais que hoje se colocam aos pais, é legítimo que estes se preocupam minimamente com a ocupação horária dos seus filhos. E a escola tem a obrigação de dar respostas válidas a esta preocupação. Os filhos vão para a escola para aprender e para se desenvolverem, não para passarem o tempo com folgas ou feriados/furos, normalmente ocupados com ‘actividades’ que a família pouco aprova.
Os professores e a escola.
Que festa era (juntávamo-nos logo com duas violas e o ‘rabinho’ na relva) quando tínhamos um feriado/furo ou a greve dos transportes (comboios) impossibilitava um ou outro professor de dar as suas aulas! E porquê?! Porque era raro… muito raro. Daí que o tempo livre não fosse uma realidade preocupante, para os alunos, pais e ensino.
Em contrapartida, segundo os dados estatísticos divulgados pelo DN de 18.11.05, só durante um ano lectivo (2004/05) os professores faltaram a cerca de 9 milhões de aulas (contabilizados os ensinos pré-escolar, básico e secundário). Ou seja cerca de 10% do total dos tempos lectivos previstos. Acresce que ao docente são permitidos 67 regimes ao abrigos dos quais pode faltar ao exercício das suas funções.
Outro aspecto que marca a diferença entre ontem e hoje, é o relacionamento entre docentes e alunos, que permitia haver ‘vida’ para além da sala de aula: na rua, nas viagens de estudo, nas acções e actividades extra-curriculares na própria escola. O professor ensinava, cultivava e exercia uma valorizada função pedagógica. Sem que isso significasse distanciamento e indiferença em relação ao aluno. Por isso é que hoje, muitos da minha geração (38-42 anos), recordam facilmente a influência (umas vezes positiva, outras nem por isso) que a maioria dos ‘profs’ teve no nosso percurso estudantil.
Qualquer actividade profissional, da mais simples até à mais complexa, só se compadece com dois princípios: ou é exercida com paixão ou por obrigação. A do professor tem a ‘agravante’ de ser exercida em acção directa ‘sobre’ alguém (o aluno).
Para um encarregado de educação, o seu educando vai para a escola para aprender e para estudar. Lógico será que ocupe o seu tempo nessas tarefas. Se há a necessidade de um docente faltar à sua ‘obrigação’ laboral que é a de ensinar, será lógico que a escola crie condições para que o aluno tenha alternativas válidas e credíveis.
As aulas de substituição, na sua génese, são uma alternativa válida. O seu sucesso depende do que os professores e alunos quiserem ou souberem valorizar, bem como a capacidade organizativa da própria escola. Ou da forma como as quiserem ridicularizar.
A escola não se pode alhear das necessidades de aprendizagem dos alunos e das preocupações familiares dos mesmos. Principalmente nos dias de hoje, onde as solicitações e as pressões externas que são exercidas sobre os jovens, na maioria dos casos, são de extrema capacidade persuasiva, desviando-os, com extrema facilidade, das suas obrigações escolares.
Quem estudou entre 1976 e 1985, via no professor ‘mais velho’ uma referência cultural. Essa referência era muito mais esbatida nos professores mais novos ou nos estagiários (a quem ‘gostávamos’ de ‘dificultar’ a vida profissional). Por isso uma das argumentações da greve que se baseia na idade limite para leccionar, a mim parece-me descabida e injusta para com a experiência profissional e outras actividades.
Porque razão 50 anos são limitativos à actividade de docente e exige-se que um motorista ou alguém que abre valas para o saneamento básico (esforço e segurança) o possa obrigatoriamente fazer até aos 65 anos.
A minha avó materna era professora primária (desculpem do 1º ciclo básico - até isto me parece confuso). Com quase 90 anos e após uma trombose, criava discussões técnicas sobre latim com a minha irmã enquanto se formava na universidade de aveiro em português-francês. Esta é uma imagem que retenho nas minhas memórias com muita clareza.
Os alunos.
Aqui reside a minha suposta ‘velhice’ e as diferenças abismais entre o ontem e o hoje e que são muito maiores do que em relação à geração que me antecedeu. A questão da mentalidade.
A nossa vivência estudantil, do ponto de vista cultural, social ou político, era muito mais interventiva e activa. Quer nas estruturas da escola (delegações de turma e conselho pedagógico), quer nas estruturas associativas (núcleos e associações de estudantes).
Quem não recorda, com alguma nostalgia e orgulho, as RGA, os plenários e as campanhas eleitorais.
Hoje há (independentemente de existirem as estruturas) um vazio de ideias, de conceitos, de capacidade e vontade de intervenção. Por mais desculpas ou argumentos contrários. Não me convencem… (até porque na minha actividade como treinador de basquetebol lido diariamente com esta realidade).
Não me lembro de acções gratuitas de vandalismo, de faltas de respeito e agressões para com os professores e a escola, já para não falar da falta de solidariedade e respeito entre os próprios alunos. E no Liceu José Estêvão existiam cerca de 2500 alunos, desde o 7º ao 12º anos (ainda muito antes das c+s’s e das eb’s).
Aulas havia-as de segunda-feira até às 13:00 de Sábado, intercaladas com acções estudantis extra-curriculares, desde conselhos pedagógicos, actividades dos núcleos e das associações de estudantes e actividades culturais. Os tempos livres eram dedicados ao estudo, ao desporto e às actividades sociais e políticas. Os dias tinham mais que 24 horas. Hoje os jovens estudantes não sabem ocupar, nem gerir o seu tempo e as suas prioridades.
Nunca fui adepto da expressão dos ’meus mais velhos’: no meu tempo é que era. Mas a verdade é que para algumas coisas, estou a ficar mais velho.
A greve é um direito consignado na constituição da república.
A greve não pode ser justificada para servir de pretexto à alienação de responsabilidades.
A escola e o ensino depende de todos os seus agentes: governo, professores, alunos, pais e comunidade. Ninguém pode fugir às suas responsabilidades.
Esta greve soube a instrumentalização política.
Sem comentários:
Enviar um comentário