“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

27 outubro 2005

As saudades que eu já tinha...

Ele há dias assim… às vezes bate, bate, fortemente!
Quem nunca sentiu, em determinados momentos existenciais, a ‘vida’ a regressar ao passado.
A escola primária; o primeiro beijo; o primeiro cigarro às escondidas; o associativismo juvenil (político, social, cultural ou religioso)… e tantos outros pormenores mais ou menos marcantes!
Leitor mais ou menos assíduo do Público, não foi, por isso, a primeira vez que li um artigo do saudoso amigo António Marujo (já lá vão mais de 20 anos).
Mas desta vez foi diferente. Não sei muito bem porquê… mas foi! Talvez pelo sentido do artigo publicado e pela coincidência de igual pensamento (e de outros tantos que a memória assimilou).
Muitas expectativas foram colocadas (entre crentes e não crentes – católicos e não católicos) na eleição do novo Papa (após o falecimento do ‘universal’ João Paulo II). Bento XVI não foi uma escolha que tivesse cativado, que tivesse sido conciliadora de emoções e abrangente, pelo menos, para a maioria da base da Igreja Católica: os leigos.
E o reflexo disso (assim refere António Marujo no Público de 19.10.2005) é a ausência notória de intervenção pública e de ideias concretas para a Igreja de hoje, após 6 meses de pontificado. Nem mesmo os acontecimentos internacionais (sociais e/ou políticos) moveram o silêncio do ex-cardeal Ratzinger, agora Papa Bento XVI. Desde a sua eleição (19.04.2005) até hoje, conhece-se a sua visita à Alemanha às XX Jornadas Mundiais da Juventude, o seu ‘primeiro livro’ (a publicar muito em breve) que reflecte os seus discursos em Colónia (Alemanha) e a conclusão (pensa-se) da primeira encíclica (o mais importante documento pontífice) ainda sem ‘contornos’ públicos.
É pouco…
Para uma Igreja que vive ainda um processo de reestruturação iniciado há 40 anos com o Concílio Vaticano II, caminha-se muito devagar, desenraizada dum Mundo que ‘gira e avança’, segundo a segundo, moldando a vida de cada um de nós numa velocidade estonteante.
A Igreja de hoje continua fechada, cinzenta, voltada para o seu ‘umbigo’, com uma hierarquização que necessita de mudanças. Factores que afastam cada vez mais as pessoas, limitando a acção da ‘sua base’ que são os leigos, em benefício de um clérigo que necessita de rejuvenescimento (não de idade mas sim de adaptação ao mundo).
Exemplo disso (e já o era há vinte anos atrás quando estive ligado à pastoral juvenil e ao MCE), é o número decrescente de movimentos leigos ou o seu número de participantes.
Exemplo disso, é o número menor de praticantes (independentemente da fé pessoal) e o aumento de expressões do tipo “eu acredito em Deus, mas não preciso de ir à missa”. Transformando esta Igreja que se pretende universal e comungada, num isolamento de vivências pessoais e fechadas.
Exemplo disso, é o número decrescente de vocações, nomeadamente sacerdotais, motivadas por uma Igreja que não rejuvenesce no seu apostolado, na sua forma de evangelizar e que teima em continuar afastada e alheada da realidade social e, porque não, política, como se os Homens não fossem Homens ‘feitos’ da experiência do dia-a-dia, das suas vivências comunitárias sociais e políticas (não necessariamente partidárias)!
Uma frase bem clarificadora do momento actual da Igreja, foi expressa pelo próprio Bento XVI (então Cardeal Ratzinger) em Diálogos Sobre a Fé: “(…) se vai perdendo, por toda a parte, o sentido autenticamente católico da realidade ‘Igreja’, sem expressamente renegá-lo”. Perda de identidade com responsabilidade acrescida para a própria Igreja que, com o correr do tempo, se afasta do mundo.
Há pois, uma herança pesada gerada pelo Concílio II (que para alguns ainda está longe de concretizado); há questões internas de estruturação por resolver e definir; e, na intervenção junto dos povos, há as questões morais, sociais, éticas e (insisto) políticas a merecer intervenção concreta.
Não é fácil… mas a dificuldade não pode ser ‘senhora’ de apatia e resignação.
Ámen!

1 comentário:

Anónimo disse...

melhor não podia ter sido dito. mto bem